Projeto de petrofísica desenvolvido pela Concremat será transformado em produtos para as operadoras

Desenvolvido pela Concremat nos últimos cinco anos com recursos do Edital TI Maior, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o projeto de petrofísica digital de rochas agora renderá novos produtos, que serão comercializados ao mercado de operadoras de petróleo. “Recentemente tivemos reuniões de apresentação do projeto a três grandes empresas do segmento e acreditamos que possam se interessar em utilizar essa nova tecnologia”, adianta Arthur Sousa, vice-presidente de Engenharia da Concremat.

Coordenador do projeto, Leonardo Verbicaro – que é formado em Física pela Unicamp e mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos pela mesma universidade – conta que o foco da iniciativa foi extrair grandes quantidades de informação sobre as rochas que compõem a camada do Pré-Sal a partir de imagens obtidas com o aparelho microtomógrafo, adquirido em 2015 pela Concremat com os recursos obtidos no edital e investimento próprio.

“Normalmente as informações relacionadas à produção do petróleo, como a porosidade da rocha, que está ligada à capacidade de armazenar óleo, são extraídas em um laboratório com vários equipamentos. Mas, com o microtomógrafo, a Concremat desenvolveu um método muito mais eficiente para obter essas mesmas informações. Isso nos garantiu uma vantagem competitiva, tornando viável oferecer produtos de petrofísica digital ao mercado de operadoras de petróleo – principalmente as privadas, que, de um modo geral, são as que mais vão trabalhar com o Pré-Sal”, explica Leonardo.

O coordenador acrescenta que o equipamento é um pedaço pequeno do projeto: “Desenvolvemos, com alguns parceiros, um software, chamado PORE, que faz a análise das imagens, traduzindo-as no máximo de informações possível, com mais qualidade e agilidade. O maior ou menor espaço entre os poros da rocha indica se há ou não petróleo nela. O software, por sua vez, possibilita contar o número de poros e não apenas dar um percentual de quantos eles são, como acontece com os métodos tradicionais, mas até dizer se estão abertos ou fechados. Outro ganho extremamente importante é a economia de tempo: atualmente, os resultados de análises de rochas em laboratório on-shore levam de dois a três meses para ficarem prontos. Com o PORE instalado a bordo nas plataformas, esses resultados estarão disponíveis em menos de uma semana”.

Para exemplificar de forma mais simples, Leonardo compara as imagens geradas pelo microtomógrafo a fotografias do interior da rocha. O PORE, por sua vez, interpreta essas imagens, gerando informações a partir delas. “Se comparássemos a imagem da rocha à foto de uma torcida de futebol na arquibancada do estádio, o PORE poderia dizer qual é o time daquela torcida, por exemplo, pela camisa que as pessoas estão vestindo. Ou se havia ocorrido um gol, pelas expressões e gestos dos torcedores”, diz.

Segundo Leonardo, as informações geradas serão extremamente úteis para as operadoras de petróleo, uma vez que ajudarão a prever dificuldades e riscos, possibilitando um melhor preço: “A rocha é um dos fatores que permitem essa avaliação, juntamente com o preço do barril e questões sísmicas, entre outros. Portanto, quanto melhor a informação sobre a rocha, melhor a tomada de decisões para diminuir o risco”. O coordenador acrescenta ainda que o novo método digital de avaliação contribui para a diminuição de riscos à saúde dos envolvidos no processo e para a preservação do meio ambiente, uma vez que elimina os produtos químicos utilizados no método tradicional de análise e elimina a necessidade de envio de amostras físicas a laboratórios em terra por meios poluentes, como helicópteros.

Arthur Sousa ressalta que os novos produtos atrelados ao PORE foram pensados estrategicamente, com auxílio de uma consultoria especializada: “Em 2019, o Comitê de Inovação da Concremat aprovou e acompanhou o trabalho de uma consultoria externa, especializada em projetos de inovação, para nos direcionar no modelo de negócio a ser ofertado ao mercado. Esse olhar de fora foi fundamental para traçarmos a melhor rota para dar continuidade a este projeto, uma vez que o PORE é disruptivo e mais distante do nosso portfólio de serviços atual”.

Arthur adianta que a oferta do serviço se dará em paralelo ao início de uma segunda fase de pesquisa e desenvolvimento para ampliar o uso dessa tecnologia. “As parcerias com as operadoras de petróleo vão permitir que validemos o modelo: nosso objetivo é desenvolver funcionalidades customizadas do PORE para esses parceiros, em novos projetos de P&D. Nesta segunda fase, nossa ideia é usar inteligência artificial na interpretação dos dados, automatizando um trabalho que hoje é feito de forma manual”, afirma.

Tela do PORE com análise de uma amostra.

2 de dezembro de 2020